O quarteto nos apresenta a versão genuína do metal nordestino: repleto de groove e letras que retratam a realidade
A banda de metal baiano, Agrestia, nos concedeu entrevista para promover o EP "Sanguinolento". Durante o bate-papo, pudermos conhecer mais sobre a banda, em especial, as experiências na estrada que compõem a trajetória do quarteto e a revolta que os inspiram a criar músicas com letras político-sociais repleta de instrumentais brutais.
Em 2016, a Agrestia deu inicio ao sonho de buscar um 'lugar ao sol' no mercado fonográfico brasileiro. Na ocasião, o quarteto foi formado através de interesses em comum com pessoas que participavam de um grupo intitulado; "Forme sua banda em Salvador-BA", no Facebook.
Durante os anos de estrada, a banda sofreu baixas na formação, mas nada que desanimasse o principal objetivo dos fundadores da Agrestia, fazer música.
Atualmente, o quarteto baiano é composto por Paulo Porciúncula (vocal), Adrian Knock Down (guitarra), Daniel Moura (baixo) e Alesandro Colonnezi (bateria).
A seguir, confira o bate-papo:
ROCK EM SÍNTESE - Por que Agrestia?
Adrian Knock Down: Escolhemos o termo AGRESTIA para batizar a banda por ser um nome forte que representa a nossa origem, nossa região, o agreste do sertão, o Nordeste, a nossa cultura, mas ao mesmo tempo, o nome aponta para a qualidade rude, dura, bruta, agressiva. Então, tudo isso está conectado com o som que a gente faz, esses elementos estão presentes na nossa estética musical, nas nossas letras, na nossa forma de se expressar. Os temas das nossas músicas viajam por questões político-sociais que o povo nordestino tá cansado de sofrer.
Quais as dificuldades que marcaram o início do grupo?
Adrian: Aquela velha história que toda banda oriunda do underground passa, como falta de grana para investir em produção de qualidade, falta de lugar decente para tocar, falta de motivação e dedicação de alguns membros, tudo isso numa cena desunida e sem força.
Vocês vivem apenas da música ou também possuem outro ofício?
Adrian: Não vivemos de música. Na real, vivemos para a música. Amamos o que fazemos musicalmente, mas financeiramente a banda não dá retorno, só custo. Todos trabalhamos, cada um tem a sua correria do dia a dia, e a banda acaba sendo mais um hobby, porém um hobby, uma diversão, levada a sério, tentamos ser o mais profissional possível dentro das nossas limitações.
Quando vocês perceberam que valeria a pena investir na banda?
Adrian: Tudo é uma questão de satisfação pessoal. Investimos só o que podemos, com os pés no chão, sem fantasias, sem ilusões, sem grandes expectativas, mas dando o melhor que podemos em cada passo em prol da realização dos nossos objetivos.
O que os inspira na hora de compor?
Adrian: Em termos de letra, usamos a banda como uma válvula de escape, para soltar o verbo, questionar, e fazer o ouvinte refletir sobre as condições sociais que estamos vivenciando no momento presente. Muitas das nossas letras são verdadeiras crônicas retratando alguma questão social que estamos vivendo no cotidiano. Em relação aos arranjos, somos basicamente uma banda de rock pesado que bebe na fonte do vasto legado musical dos anos 70, 80 e 90 associados a uma leve dose de mistura e experimentações com ritmos regionais nordestinos.
Paulo Porciúncula: A vontade de fazer algo a mais, de transformar pensamentos em ação.
Colonnezi: Ultimamente, a grotesca política nacional.
A capa do EP “Sanguinolento” é uma crítica de vingança ao descaso dos políticos com os brasileiros? A arte é sensacional. Me contem um pouco sobre a idealização da capa.
Adrian: Total! Entramos em contato com o ilustrador Paulo Kalvo, que conseguiu transpor na arte da capa a ideia da cena que tínhamos em mente. Basicamente, escolhemos algumas personalidades representativas do que há de pior na política nacional, pessoas execráveis, que consideramos responsáveis por boa parte desse cenário de decadência, conservadorismo idiota e retrocesso, em que o Brasil vive atualmente.
Quais diferenças vocês notaram de evolução entre o processo de composição do EP Sanguinolento e os singles anteriores?
Adrian: Em termos de composição, com exceção da música 'O Mito da Caverna', todas foram criações antigas da primeira formação, tendo Paulo como letrista e eu como arranjador, porém esses arranjos foram atualizados na nova formação, onde os novos integrantes acrescentaram mais punch e mais groove na execução. 'O Mito da Caverna' já tem o texto escrito pelo nosso baterista, Colonnezi, trazendo um discurso mais ácido na letra.
Qual apresentação marcou vocês?
Adrian: Sem dúvida foi o show no Palco do Rock 2020, estrutura gigante, palco enorme, tudo de primeira!
Já aconteceu algo louco com a banda?
Adrian: Até agora tudo normal, todo mundo "caretão"!
Colonnezi: Não (risos).
Como vocês se veem daqui a 10 anos?
Adrian: Vejo o Agrestia tocando em grandes festivais pelo Brasil e com um legado de bons álbuns lançados.
Colonnezi: Vivos, talvez. E tocando insistentemente.
Paulo: Viajando e fazendo som por toda américa latina.
Daniel: Com maior reconhecimento.
Definam a banda em uma palavra:
Adrian: Resistência.
Colonnezi: Vigorosidade.
Daniel: Punch.
Banda incrível mostrando a que veio!!!