Diretamente de Jundiaí para o território Nacional, a banda luta por respeito e inclusão das causas feministas e LGBTQIA+ na sociedade
Em entrevista concedida por e-mail, pudermos conhecer um pouco mais sobre a banda Clandestinas. Conversamos sobre a diversidade e representatividade em meio à cena, a falta de visibilidade na mídia, as dificuldades de ser uma banda com princípios inclusivos em uma sociedade preconceituosa, a primeira participação em um festival online (Caio Fest 3) e as perspectivas do trio para 2021.
A banda foi formada em 2017, e é integrada por mulheres de Jundiaí, que juntas manifestam seus ideais através de canções por elas escritas. Sobre o surgimento do trio, elas falam que aconteceu através da imposição em querer questionar as injustiças usando a música "Nós, Clandestinas, existimos e junto com todas as mulheres, continuaremos incomodando e gritando arte e luta. Com as nossas músicas, os nossos corpos e com os nossos afetos, combatemos o machismo, o patriarcado, o racismo, a LGBTfobia e todas as várias formas de opressões estruturais", afirmou.
A banda é composta por Alline Lola (guitarra e vocal), Camila Godoi (contrabaixo e vocal) e Natalia Benite (bateria e vocal).
Confira a seguir, o nosso bate-papo:
ROCK EM SÍNTESE - Por que “Clandestinas”? Qual a mensagem o nome quer passar ao público?
CLANDESTINAS - O nome "Clandestinas" também é uma forma de lembrar os vários corpos e vivências marginalizados em nossa sociedade e que, de certa forma, precisam viver numa clandestinidade imposta por uma sociedade que deseja invisibilizar estas vidas e, muitas vezes, exterminá-las. O nome também remete à luta pela descriminalização do aborto pois, no Brasil, o aborto é realizado, sistematicamente, de forma clandestina, colocando em risco a vida de muitas mulheres.
ROCK EM SÍNTESE - Quais gêneros musicais a banda tem como influência?
CLANDESTINAS - Cada integrante da banda tem gostos musicais e repertórios bastante diversos. E, talvez, esta diversidade seja um dos temperos importantes em nossas composições, em nossos arranjos.
ROCK EM SÍNTESE - Vocês lançaram o primeiro álbum da banda em maio do ano passado. Como foi o processo de composição e divulgação em plena pandemia?
CLANDESTINAS - A divulgação do nosso álbum, do videoclipe da canção "Nenhuma a menos", do lyric video da canção "Rotina" e de outros registros, como a nossa participação no filme "Pluma Forte" (Coraci Ruiz, 2019), dá-se, principalmente, através de uma rede de pessoas envolvidas na militância feminista. E, também, a divulgação por "mala direta", através de e-mails enviados para o Brasil e para o exterior, tem se mostrado bastante valiosa.
ROCK EM SÍNTESE - Vocês já sofreram algum tipo de preconceito pela arte que fazem?
CLANDESTINAS - Dentro do nosso aprendizado, de forma coletiva e escutando outras mulheres, nós estamos sedimentando, aos poucos, saberes compartilhados pelos movimentos feministas. E estes saberes servem como guias para podermos identificar quais lutas vamos apoiar. E sim, a nossa arte já sofreu rejeições preconceituosas por abordar temas que confrontam o machismo, o patriarcado e a hétero-cis-normatividade.
ROCK EM SÍNTESE - Faltam bandas que lutam de frente com o machismo, o patriarcado, o racismo e a LGBTfobia? Qual a opinião de vocês quanto a isso?
CLANDESTINAS - Não faltam bandas. Há, aliás, uma quantidade e uma qualidade bastante significativas de bandas compostas por mulheres e pessoas LGBTIA+ compondo músicas que contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e diversa. No entanto, não existe a visibilidade que desejamos. E isto não é interesse para os "donos do negócio" que decidem o que será "mainstream" ou não, porque as nossas lutas passam, necessariamente, pela crítica às perversidades que estruturam o capitalismo
ROCK EM SÍNTESE - Como vocês enfrentam as opressões de cada dia, enquanto banda feminista?
CLANDESTINAS - A nossa força e resiliência para enfrentarmos as opressões de cada dia vem de uma rede composta, principalmente, por mulheres e pessoas não-bináries. Com estas pessoas, aprendemos e construímos nossas abordagens teóricas. Com estas pessoas, nos acolhemos, curamos as feridas e voltamos, fortalecidas para a luta cotidiana. E esta rede está presente no modo como fazemos as coisas, enquanto banda: as nossas equipes técnicas em shows e gravações de áudio e de vídeo são compostas por mulheres e pessoas dissidentes da binariedade de gênero.
ROCK EM SÍNTESE - Qual a faixa preferida de cada integrante do álbum de estreia de vocês?
CLANDESTINAS - Camila, como uma libriana típica, alega que não tem uma faixa preferida. Lola gosta mais da canção "Na Lua, Ana" e Natalia prefere a canção "Nota solta".
ROCK EM SÍNTESE - Quais as expectativas da banda em participar de festivais onlines?
CLANDESTINAS - Nós ainda não participamos de um festival online. O primeiro em que estaremos presentes será o Caio Indica Fest e a nossa contribuição será através da exibição do videoclipe da canção "Nenhuma a menos". Nós não temos equipamentos próprios que permitam uma transmissão, "ao vivo" de um show com uma qualidade satisfatória e, para que, um dia, seja possível transmitir uma apresentação nossa, "ao vivo", será necessário sermos convidadas por um festival ou instituição que ofereça essa estrutura ou que financie o aluguel de uma estrutura adequada.
ROCK EM SÍNTESE - Quais os planos da banda para 2021?
CLANDESTINAS - Nós lançamos, no final de janeiro, o clipe da canção "Nenhuma a menos": o vídeo é uma obra muito linda e fortalecedora da diretora Julia Zulian e vale muito apena assistir ao clipe. Além disso, desde o início da quarentena, cada integrante vem explorando a sonoridade de seu instrumento e, quando nos encontramos para tocar, vimos trabalhando em novas composições e em experimentações sonoras que, talvez, aos poucos, sejam incorporadas em nossas músicas. E nós temos cinco materiais muito bons: o nosso álbum, este videoclipe, um lyric vídeo, um show gravado no Sesc e um filme de arte no qual atuamos e que participou de festivais de cinema no Brasil e no mundo. O nosso plano para 2021 é continuar trabalhando na distribuição destes materiais, continuar ensaiando e criando novas músicas e experimentações.
Confira ao videoclipe Nenhuma a menos, música inclusa no álbum autointitulado Clandestinas (2020):
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